O lugar se localiza nas imediações da Praia do Barco e Capão Novo, no litoral gaúcho. Na faixa das dunas de areia onde corre o olhar, há uma única árvore (naquelas imediações), uma árvore de pinus elliotti, presente no litoral gaúcho.
Estando diante da árvore, temos a nossa frente o mar, em nossas costas montanhas, à direita e esquerda uma imensidão de dunas de areia formando uma linha branca tênue. É um lugar excêntrico, único. Um espaço qualquer para poucos que por ali passam.
Para olhares desatentos tal lugar é inexistente, mas para olhares atentos, um lugar de sintonia, que lhe presenteia com calmos estímulos visuais. Campo de exploração da sensibilidade, caminhos, pensamentos e diálogos criados e registrados na memória. Registros particulares, portanto não mencionáveis, apenas vinculados ao registro do local e habitante. Eu habitante.
Os Registros
Lembranças do momento de descoberta do local não existem, não há lembranças.
As caminhadas a beira mar, no inicio da manhã ou no final da tarde era o lugar e o momento de inicio dos registros. Ao descobrir o lugar por intermédio de alguem especial, passei a habitá-lo com frequência. Com o horizonte de companhia percorria o trajeto até chegar ao “refugio” da árvore.
Já no local, ao lançar o olhar, ouvia-se apenas o som dos ventos e o quebrar das ondas, fazendo surgir alguns tipos de registros como pensamentos.
Registros de apropriação do habitante naquele momento e após se tratam de manifestos de lembranças destes registros. Se proferidos, se trataria de registros narrados. Produções em desenhos passam a ser uma forma de visualização, ou seja, registros visuais. Toda a forma de expressão, sendo ela pensada, delineada, fotografada ou narrada, é exposta aqui como registro.
A função do registro é fazer o lugar ser um ponto de partida de memórias passadas. Retroceder a tempos, vivência, valores de outrora. Manter intacto um local e poder voltar para retomar registros e construir novos. É de certa forma estar próximo do lugar mesmo estando longe, é ter livre acesso. “Reconfortamo-nos ao reviver lembranças de proteção” (BACHELARD, 2003).
O espaço descrito aqui existe visivelmente, lugar concreto, horizonte longínquo, ruídos próximos e infindáveis. Mas é também imaginário em relação a sua função do lugar com quem habita. Função de devaneio e relativo às memórias.
A reconstrução deste horizonte e espaço fixo me permitiu construir novas condições de reflexão e produção. A fotografia é fonte de registro que funde com a produção gráfica permitindo novas experiências e futuros registros.
Conforme Derdyk a “vivência é a fonte do crescimento, o alicerce da construção de nossa entidade, fornece um leque de repertório, amplia a possibilidade expressiva” (DERDYK, 2003, p.11)
Trechos e fragmentos "Passaporte para Infância - Processos e percursos em direção ao imaginário"
Por Cíntia R.
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