domingo, 12 de dezembro de 2010

Respostas de Rilke

Há duas semanas comecei a ler o livro que contêm as cartas de Rilke, poeta nascido em Praga (1875-1926), endereçadas a um jovem poeta. Me identifiquei com as indagações do jovem e, silenciosamente fiquei acalentada e pensativa com as respostas do poeta experiente, sensível e conselheiro. Segue abaixo um trecho da primeira carta:

"Utilize, para se exprimir, as coisas do seu ambiente, as imagens dos seus sonhos e os objetos de sua lembrança. Se a própria existência cotidiana lhe parecer pobre, não a acuse. Acuse a si mesmo, diga consigo que não é bastante poeta para extrair as suas riquezas. Para o criador, com efeito, não há pobreza nem lugar mesquinho e indiferente. Mesmo que se encontrasse numa prisão, cujas paredes impedissem todos os ruídos do mundo de chegar aos seus ouvidos, não lhe ficaria sempre sua infância, esta esplêndida e régia riqueza, esse tesouro de recordações? Volte a atenção para ela. Procure soerguer as sensações submersas deste longínquo passado: sua personalidade há de reforçar-se, sua solidão há de alargar-se e transformar-se numa habitação entre o lusco e fusco diante do qual o ruído dos outros passa longe, sem nela penetrar. Se depois desta volta para dentro, deste ensimesmar-se, brotarem versos, não mais pensará em perguntar seja a quem for se são bons. Nem tão pouco tentará interessar as revistas por esses seus trabalhos, pois há de ver neles sua querida propriedade natural, um pedaço e uma voz de sua vida. Uma obra de arte é boa quando nasceu por necessidade. Neste caráter de origem está o seu critério, — o único existente. Também, meu prezado Senhor, não lhe posso dar outro conselho fora deste: entrar em si e examinar as profundidades de onde jorra sua vida; na fonte desta é que encontrará resposta à questão de saber se deve criar. Aceite-a tal como se lhe apresentar à primeira vista sem procurar interpretá-la. Talvez venha significar que o senhor é chamado a ser um artista. Nesse caso aceite o destino e carregue-o com seu peso e a sua grandeza, sem nunca se preocupar com recompensa que possa vir de fora."

Texto extraído do livro "Cartas a um jovem poeta" de Rainer Maria Rilke,  tradução de Paulo Rónai, Editora Globo – Rio de Janeiro, 1995.

Pris Thomassen 

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Horizonte Registrado -



O lugar se localiza nas imediações da Praia do Barco e Capão Novo, no litoral gaúcho. Na faixa das dunas de areia onde corre o olhar, há uma única árvore (naquelas imediações), uma árvore de pinus elliotti, presente no litoral gaúcho.
Estando diante da árvore, temos a nossa frente o mar, em nossas costas montanhas, à direita e esquerda uma imensidão de dunas de areia formando uma linha branca tênue. É um lugar excêntrico, único. Um espaço qualquer para poucos que por ali passam.
              Para olhares desatentos tal lugar é inexistente, mas para olhares atentos, um lugar de sintonia, que lhe presenteia com calmos estímulos visuais. Campo de exploração da sensibilidade, caminhos, pensamentos e diálogos criados e registrados na memória. Registros particulares, portanto não mencionáveis, apenas vinculados ao registro do local e habitante. Eu habitante.

Os Registros

Lembranças do momento de descoberta do local não existem, não há lembranças.
As caminhadas a beira mar, no inicio da manhã ou no final da tarde era o lugar e o momento de inicio dos registros. Ao descobrir o lugar por intermédio de alguem especial, passei a habitá-lo com frequência. Com o horizonte de companhia percorria o trajeto até chegar ao “refugio” da árvore.
Já no local, ao lançar o olhar, ouvia-se apenas o som dos ventos e o quebrar das ondas, fazendo surgir alguns tipos de registros como pensamentos.
            Registros de apropriação do habitante naquele momento e após se tratam de manifestos de lembranças destes registros. Se proferidos, se trataria de registros narrados. Produções em desenhos passam a ser uma forma de visualização, ou seja, registros visuais. Toda a forma de expressão, sendo ela pensada, delineada, fotografada ou narrada, é exposta aqui como registro.
A função do registro é fazer o lugar ser um ponto de partida de memórias passadas. Retroceder a tempos, vivência, valores de outrora. Manter intacto um local e poder voltar para retomar registros e construir novos. É de certa forma estar próximo do lugar mesmo estando longe, é ter livre acesso. “Reconfortamo-nos ao reviver lembranças de proteção” (BACHELARD, 2003).
O espaço descrito aqui existe visivelmente, lugar concreto, horizonte longínquo, ruídos próximos e infindáveis. Mas é também imaginário em relação a sua função do lugar com quem habita. Função de devaneio e relativo às memórias.
A reconstrução deste horizonte e espaço fixo me permitiu construir novas condições de reflexão e produção. A fotografia é fonte de registro que funde com a produção gráfica permitindo novas experiências e futuros registros.
Conforme Derdyk a “vivência é a fonte do crescimento, o alicerce da construção de nossa entidade, fornece um leque de repertório, amplia a possibilidade expressiva” (DERDYK, 2003, p.11)


Trechos e fragmentos "Passaporte para Infância - Processos e percursos em direção ao imaginário"

Por Cíntia R.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Arte - bastidores do processo

Praia do Barco

 Reflexões - memórias provocadas, contidas e referidas


   Serenidade ao estar no cenário das muitas narrativas

Estesia ao extrair pictoriamente o lugar- por Cíntia R.

Estesia ao extrair pictoriamente o lugar- por Pris Thomassen

 
 Praia do Sol


Contemplação da criação divina
 
Intervenção humana

  Estesia ao extrair pictoriamente o lugar- por Pris Thomassen



quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Fragmentos do Lugar-Portal - Por Pris Thomassen

                                                                     
                                                        Praia do Barco 



















Farol de Santa Marta 
 









             Praia do Sol















quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Reflexões antes da viagem... por Pris Thomassen

Não preciso fechar os olhos para remontar as lembranças dos veraneios na Praia do Sol. Basta abrir uma gaveta para os incontáveis cenários e habitantes consangüíneos ou não reaparecerem em 3D. Posso até escolher os títulos dos veraneios e dividi-los em subseções, como: família, parentes, caminhadas, brincadeiras, frustrações,  superações, natureza, entre outros. Mas nada supera a estesia provocada pela lembrança do cheiro de maresia combinada aos tons que colorem as minhas lembranças.
As lembranças, estas não posso tocar, mas, posso evocá-las  através da arte. Já parei para refletir sobre como seria voltar a este lugar. Até cheguei a escrever pensamentos numa das madrugadas  em que acordei pensando sobre o projeto:
“Penso que o lugar só tem sentido pelas pessoas que ali o habitaram. Habitantes do espaço constituíram o Não- Lugar em lugar de memórias desejantes e saudosas. Não desconsidero o lugar simplesmente por sua existência não compartilhada pelos amados e amantes. Porém, voltar ao lugar, quando não se tem aquelas pessoas, é triste. Os amados existem, só não ocupam mais aquele espaço.
Quando você está no lugar, desejaria não estar, pois deseja o depois, por isso, o Não-Lugar.   Besteira, o Não-Lugar é o melhor lugar de se estar. Lembro da minha infância. Besteira de novo, pois ao querer voltar à infância faço do meu presente o Não-Lugar. É engraçado como o ser humano é um fervilhão de ideias, e,  de repente o medo se apodera da mente. Não sei se é o medo ou prudência dizendo: pense bem...
O fato é que desejo adentrar ao Lugar-Portal, que me permitirá criar, imaginar, relembrar e experenciar a sensação de colocar as minhas memórias justapostas ou sobrepostas à minha percepção atual. Onde é este Lugar-Portal? Imaginava ser ele o futuro num espaço do meu Não-Lugar do passado. Mas, ao escrever estas linhas invado o tempo do Lugar-Expandido, ou seja, exponho em tempo real o meu Não-Lugar aliado ao Lugar-Portal.”
Talvez, tenha deixado você confuso ao ler minhas palavras desconexas ou não, mas, o que  gostaria de deixar claro é que elas expressam a mente de alguém que está apaixonada pela Arte e deseja ardentemente alçar vôo no processo de criação. Sou muito grata por tudo isso e confesso que minha vida a Deus pertence e isso envolve todos os meus medos, encantos e projetos.  O que eu espero do Lugar - Portal? É realmente sentir o Lugar-Portal, sem me preocupar com o Lugar-Expandido.
Pris Thomassen

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Contagem regressiva...

Nesta sexta-feira, dia 29/10, partiremos  às 08h30min rumo ao Lugar-Portal, percorrendo a Praia do Barco, litoral gaúcho, até o dia 31/10. Em seguida, vamos para a Praia do Sol, litoral catarinense, até o dia 03/11.

Estamos aguardando com expectativa para, através desta viagem, adentrar profundamente ao portal de criação, com uma produção constante em diferentes linguagens artísticas, tais como: desenho, pintura, fotografia, vídeo, assemblagem e registros escritos.

Após a viagem ao Lugar-Portal postaremos  no blog fragmentos das nossas percepções...

Agradecemos desde já a todos e todas que estão nos apoiando e incentivando!

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Conhecendo o projeto "À margem do mar: paralelo entre infâncias"



A partir de conversas informais nos intervalos de aula na Universidade Feevale surgiu a ideia de buscar paralelo à licenciatura de Artes Visuais uma experiência no campo da produção artística, ou seja, a conversa informal sobre as infâncias e veraneios em praias diferentes desencadeou o projeto artístico intitulado “À margem do mar: paralelo entre infâncias”.

O projeto de pesquisa e prática individual e coletiva transcorrerá no que chamamos de criação em três tempos:
1. Não-lugar: passado guardado na memória e compartilhado em conversas, além do planejamento e discussão do projeto. Por isso, o objetivo desta etapa é buscar na memória elementos da infância potenciais à criação artística, planejando as etapas de criação, bem como, articular estratégias para arrecadação de recursos e verbas necessárias para a realização desta produção cultural; 

2. Lugar-portal: viagem e produção artística nos lugares da infância. Primeiramente, após as criações e planejamentos no Não-lugar, vamos ao que chamamos de Lugar-Portal, percorremos a Praia do Barco, litoral gaúcho, por dois dias. Esta praia foi o local em que a Cíntia passou muitos veraneios em sua infância e através deste projeto ela voltará a este lugar onde resgatará elementos para criação em arte. No entanto, Priscila produzirá tanto a partir das lembranças narradas por Cíntia como a partir de impressões e percepções como uma estranha neste lugar.
Saindo da Praia do Barco, partiremos à Praia do Sol, litoral catarinense, onde daremos continuidade à produção artística por dois dias, invertendo os papéis, pois agora Cíntia será uma estranha no local da infância de Priscila. Neste sentido esta viagem oportunizará a fruição e a fomentação do processo de criação de ambas.

3. Lugar-expandido: análise e exposição dos trabalhos de criação em arte. Neste tempo produziremos obras e objetos artísticos, durante o período de 01 (um) ano, que ao final serão expostos numa sala, especificamente em duas paredes paralelas: numa parede constarão os trabalhos de Cíntia e em outra, de Priscila, sendo que cada uma fará na abertura da exposição uma intervenção no trabalho da outra.

Estamos produzindo de acordo com as nossas memórias e percepções... E no início de novembro vamos partir para o Lugar-Portal.




 Cíntia R. Fragmento: horizonte registrado I, 2010. Acrílica s/ algodão crú.



          Cíntia R.Fragmento II, 2010. Acrílica s/ algodão crú.



Pris Thomassen. Portal, 2010. Técnica mista s/ algodão crú, 150 cm x 78 cm